É você uma pessoa autêntica, sem máscaras? Devemos ser mais espontâneos do que somos?
Mas não se acomode no que você é. Somos o que pensamos que somos, mas o que somos é mais do que nós pensamos. Ser como você é pode não ser fácil e, de fato, não é. Primeiro, porque não sabemos bem quem somos e, segundo, porque é um desafio abandonar características que não são realmente de nossa personalidade e ser autêntico.
Mas não devemos desanimar. A autenticidade é a capacidade de ser o que somos, sem máscaras ou defesas disfuncionais (complicadas). A criança é mais próxima de sua real personalidade do que nós adultos. Isto porque ao crescer nós precisamos usar, mais ou menos, defesas psicológicas para nos adaptar ao meio ambiente e, assim, nos sentir seguros e confortáveis emocionalmente. Deixa me explicar um pouco melhor.
A criança necessita de disciplina e de limites para sua saúde mental. Crianças não se tornam mais felizes quanto as deixamos fazer tudo o que elas querem e nem quando damos a elas tudo o que elas solicitam. Na vida há limites naturais. Saúde mental tem que ver com vivermos dentro de nossos limites sem acomodação.
Quando uma criança percebe (e como elas percebem!) que para ser amada, aceita, aprovada, querida, ela tem que ser diferente do que ela naturalmente é, ela decide agir diferente do seu jeito espontâneo de ser. E se por causa das exigências do meio ambiente onde ela vive, além da sensibilidade pessoal, ela precisa adaptar-se mudando muito sua naturalidade, é quando ela vai perdendo o jeito de ser como pessoa. Ela fica, vamos dizer, adulterada. Na verdade, todos temos que usar defesas para sobreviver mentalmente. Só que há defesas rígidas demais, disfuncionais, e as razoáveis ou funcionais, que não criam tensões internas no indivíduo.
Não existe nenhuma pessoa cem por cento espontânea. Existem as muito espontâneas, as mediamente espontâneas e as muito pouco espontâneas. Além disso, em qualquer um destes grupos de espontaneidade, há as mais afetadas ou menos. Ou seja, pessoas mais saudáveis e menos saudáveis, que conseguem pouco, médio ou muito contato social. E, principalmente, contato consigo mesmo.
Para crescer e resgatar nossa espontaneidade e naturalidade é preciso arriscar. Arriscar ser de uma forma fora do habitual, do costumeiro, em direção àquilo que nossa consciência persiste em nos dizer para ser. Isto pode ser perigoso, eu sei, porque nossa mente pode nos induzir a ser algo não saudável. A referência saudável depende da coerência, honestidade, verdade. Não é o que todos dizem e fazem necessariamente.
Na verdade, é tênue o limiar entre avançarmos além de nossos limites rumo ao crescimento e entrar numa área perigosa para a saúde. Ou seja, para crescer precisamos arriscar, só que arriscar demais pode ser realmente demais. Só a própria pessoa pode medir e avaliar o que é demais e o que não é em dado momento de sua vida com o que cada um pode ser.
Ser o que você é não termina em uma semana, nem em uma maratona psicológica, nem em uma boa psicoterapia ou análise pessoal, nem em poucos anos de vida. Na verdade, leva toda uma vida. Desde que nascemos vamos perdendo a naturalidade, a espontaneidade, e adquirindo o que chamamos de “self-social”, ou seja, aquilo que mostramos em nossos relacionamentos sociais. O que mostramos ali pode ser um tanto (pouco ou muito) diferente do que mostramos na intimidade familiar. Perdemos para ganhar. Perdemos a espontaneidade para ganhar, talvez, aceitação, afeto, companhia. E podemos ganhar isto ou não. E se você quer amadurecer (obter saúde mental) é preciso perder o medo de querer afeto e aprovação de todos, e ser espontâneo, e natural. É preciso vencer os medos de rejeição. É preciso aceitar que há coisas boas e ruins em sua personalidade e que algumas pessoas irão gostar de você enquanto que outras não. Não é preciso que todos gostem para que você tenha equilíbrio mental.
Seja como você é. Dê um primeiro passo para a espontaneidade. Como? Por exemplo: você diz o que quer dizer? Você quer dizer isto mesmo que disse? Está realmente com fome agora, ou vai almoçar porque todos vão nesta hora? Você disse “sim” querendo dizer “sim” mesmo? Arrisque dizer “não” de forma amável e firme da próxima vez se for isto a verdade sua e seu limite pessoal (ainda que se sinta um tanto inseguro por dentro. Não diga que está inseguro. As pessoas não precisam saber disto). Ser como você é tem que ver com fazer algo. Não se acomodar. Tentar novamente. Ter consciência da sua conduta. Amar a si mesmo de forma saudável (nem menos – baixa auto-estima, e nem mais – narcisismo e prepotência).